sexta-feira, 31 de maio de 2013

EMOTIONAL NUDITY

Divaguei, divaguei e divaguei sobre como escreveria a resenha desta, que é a série que mais me tocou no último ano. Confesso que não foi de primeira, mas, com o passar dos episódios, “Girls” me conquistou e extraiu emoções de mim que achei que nenhum filme, série ou livro o faria.  Ainda bem que a arte existe!
Obrigada, Lena Dunham, por despir-se emocionalmente e trazer à tona emoções difíceis de lidar. A atriz, que também é protagonista, criadora, roteirista, diretora e produtora da série da HBO, inova na maneira de retratar um grupo de meninas de 20 e poucos anos.
Girls narra a história de Hanna Horvath (Lena Dunham), uma aspirante a escritora que precisa se virar sozinha depois que seus pais decidem retirar a ajuda financeira. Com 24 anos, a protagonista é acomodada, insegura, mimada e tem sérios problemas de autoestima, compondo um personagem complexo e que pode evoluir bastante ao longo da série. Além de Hanna, Girls também apresenta Marnie (Allisson Williams), uma recepcionista da galeria de arte, cujo sonho é trabalhar com questões ambientais. Ela é apresentada como a mais “responsável” do grupo, mas mesmo assim vive um relacionamento completamente enfadonho com alguém que não combina com ela. Já Jessa (Jemima Kirke) é uma britânica estudante de filosofia, que afirma ter viajado pelos quatro cantos do planeta. Seu estereótipo é o da garota descolada e bem resolvida, mas logo percebemos que as coisas não são exatamente da forma que ela demonstra. A última personagem é Shoshanna (Zosia Mamet), a prima de Jessa. A caçula do grupo está ainda na faculdade e é virgem no início da série. Inicialmente, tem a intenção de encontrar um namorado bem sucedido e sonha com uma vida no estilo “Sex and the City”. Posteriormente, revela-se uma surpreendente fonte de sabedoria.
“Devemos escrever sobre o que sabemos” é uma frase que ouço muito. E, com apenas 26 anos, Lena vem escrevendo sobre os 20 e poucos anos de uma geração perdida e em crise como ninguém. Esta geração está perdida não apenas economicamente, mas também em relação a rumos futuros, principalmente nos EUA, onde se passa a série e local onde a recessão perdura significativamente até hoje.
No entanto, como uma brasileira de 24 anos e jornalista recém-formada (também com pretensões literárias), me identifico constantemente com os percalços destas quatro protagonistas.
A série foi bastante comentada devido às suas cenas de sexo um tanto bizarras. Mas, como afirmou a intérprete de Marnie, Allison Williams, muito mais do que a “nudez corporal”, a série apresenta de forma crua as emoções destas jovens, ou seja, a nudez emocional, retratada no título deste post. Lena, através dos diálogos e situações da série, é capaz de despir-se emocionalmente como nunca vi. E, por causa dessa falta de pudores emocionais e psicológicos, a série vem se destacando cada vez mais.  
Hannah é uma menina mimada, preguiçosa e que não assume seus erros. Por isso, muitas vezes a julgamos. Mas, afinal, quem nunca agiu assim? O que quero ressaltar aqui é que é realmente incômodo nos vermos através de nossos próprios defeitos que, muitas vezes, procuramos mascarar. E assim segue a sociedade, querendo enfeitar e esconder. Por isso a arte existe, para perturbar o que é confortável, para testar os limites da hipocrisia. E para que, desta forma, ao olharmos para nós mesmos, possamos evoluir e nos tornar pessoas melhores. Bem, esse é o meu ponto de vista.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Under Pressure


É tão bom ser surpreendida positivamente! Sem grandes expectativas, fui assistir “Se Enlouquecer, Não se Apaixone” (It's Kind of a FunnyStory). Novamente, o título brasileiro foi infeliz. Mas não se deixe enganar, o filme vale a pena. Contando com uma sensibilidade sutil, porém poderosa, o longa é contado de forma simples e traz atuações delicadas através de uma história cativante. Pena que não teve seu devido reconhecimento...

Vamos à história! Craig, um menino de 16 anos (Keir Gilchrist), estressado com as demandas de ser um adolescente e por causa de sérios problemas escolares e emocionais, se interna em uma clínica psiquiátrica. Lá ele descobre que a ala dos menores está fechada — e se encontra preso na enfermaria adulta. Craig passa a conviver com adultos que possuem diversificados problemas mentais — incluindo Bobby (Zach Galifianakis) o qual se torna mentor de Craig durante sua estadia na clínica —, e se apaixona por uma moça um tanto desequilibrada, da mesma idade, chamada Noelle (Emma Roberts).


Encantei-me com dois atores em particular: Keir Gilchrist, intérprete do sensível e depressivo Craig; e  Zach Galifianakis, ator já conhecido por seu ótimo timing cômico e pela trilogia de estrondoso sucesso “Se Beber Não Case”. O primeiro se mostra natural no papel de um menino emocionalmente abalado pelas pressões que sofre. Demonstrando grande vulnerabilidade, Gilchrist apresenta sutilmente o que a depressão pode fazer com um jovem rapaz. Já Galifianakis prova que a veia cômica não é sua única virtude como ator. Em um papel que é um misto de comédia e drama, Zach entrega um personagem cativante, no qual torcemos e queremos ajudar. Versatilidade é isso.

Destaco também a participação da atriz indicada duas vezes ao Oscar, Viola Davis. Ótima como a psiquiatra responsável por esta ala do hospital, Davis nos entrega uma terapeuta que foge dos clichês do gênero, com uma participação que, embora seja curta, é extremamente eficiente. Viola é o tipo de atriz que traz energia consigo. Mais um ponto positivo para o longa!


Não vou me estender, pois espero que muitos vejam o filme e, como eu, se surpreendam. A mensagem por mim captada é: não ceda à pressão. Sim, ela é constante e a vida por si só já é difícil. Mas, deixemos para sofrer e nos preocupar com o que for realmente desconcertante. Como diria Mercury e Bowie, “Why can't we give love that one more chance?”. Vamos dar mais uma chance para amor e para nós mesmos.


OBS: A música “Under Pressure” não foi citada no título à toa, há no filme uma parte com a canção. Imperdível, cativante e catártico!

sábado, 11 de maio de 2013

Ser gentil ao invés de ter razão


Sim, eu sei que o nome do blog é CineCult Addiction e fala sobre cinema, mas desta vez vou mudar de foco e escrever sobre um livro que eu me apaixonei perdidamente. No entanto, para não perder o gancho cinematográfico, a obra em questão é a inspiração de um filme que eu amo, o homônimo O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook). Abaixo, a sinopse oficial:
Pat Peoples, um ex-professor de história na casa dos 30 anos, acaba de sair de uma instituição psiquiátrica. Convencido de que passou apenas alguns meses naquele “lugar ruim”, Pat não se lembra do que o fez ir para lá. O que sabe é que Nikki, sua esposa, quis que ficassem um "tempo separados". 
Tentando recompor o quebra-cabeça de sua memória, agora repleta de lapsos, ele ainda precisa enfrentar uma realidade que não parece muito promissora. Com seu pai se recusando a falar com ele, sua esposa negando-se a aceitar revê-lo e seus amigos evitando comentar o que aconteceu antes de sua internação, Pat, agora um viciado em exercícios físicos, está determinado a reorganizar as coisas e reconquistar sua mulher, porque acredita em finais felizes e no lado bom da vida. 
À medida que seu passado aos poucos ressurge em sua memória, Pat começa a entender que "é melhor ser gentil que ter razão" e faz dessa convicção sua meta. Tendo a seu lado o excêntrico (mas competente) psiquiatra Dr. Patel e Tiffany, a cunhada viúva de seu melhor amigo, Pat descobrirá que nem todos os finais são felizes, mas que sempre vale a pena tentar mais uma vez.
Um livro comovente sobre um homem que acredita na felicidade, no amor e na esperança.


Matthew Quick, onde você esteve este tempo todo? Que escritor brilhante! Consegue captar cada ação, pensamento, sentimento e emoção de seu personagem principal de maneira lindamente minuciosa, fazendo com que o leitor sinta tudo o que Pat sente durante a obra. O livro, de uma leitura leve, apesar do tema forte, nos faz compreender o que se passa na cabeça de Pat, pois é narrado pelo protagonista quase como um diário.
Me fascina a mente de um artista, seja ele escritor, roteirista, cineasta ou ator e sua capacidade de criar. Transformar um personagem em humano como todos nós. Sem máscaras, sem estereótipos, sem limitações. Esse é Pat, que, ainda mais especial, sofre de transtorno bipolar.
A batalha de Pat em descobrir o que realmente aconteceu para ir para o “lugar ruim” e a sua quase infantil filosofia de que sua vida é um filme e no final as coisas vão dar certo, são fatores que fazem o leitor se encantar pelo personagem. Seu maior objetivo, seu final feliz, é se reconciliar com Nikki e terminar com o “tempo separados”.
O que é fascinante em Pat é sua devoção em se tornar uma pessoa melhor. Como ele repete diversas vezes no livro, “estou praticando ser gentil ao invés de ter razão”. É lindo e, ao mesmo tempo, triste, o fato de Pat se esforçar tanto para se tornar uma pessoa genuinamente boa e manter sua sanidade, enquanto tantas pessoas perfeitamente sãs fazem coisas horríveis.
A narrativa se torna ainda mais interessante quando entra em cena Tiffany. Com seus próprios demônios interiores, porém com consciência deles (diferente de Pat), Tiffany é uma personagem tão poderosa quanto o protagonista, embora tenha menos destaque. Com uma história igualmente triste e também com o peso de uma doença mental, ela é uma mulher que, apesar de machucada pelos dissabores da vida, traz consigo a coragem de assumir quem de fato é. Ela não se esconde através de máscaras, e reconhece que tem problemas, apesar da hipocrisia da sociedade, que quer mascarar qualquer idiossincrasia das pessoas.
Além de todas as dificuldades que enfrenta, Pat ainda tem que lidar com seu difícil pai. Um homem que só fica de bom humor quando seu time de futebol americano ganha. Um personagem duro, podendo ser visto, se fosse um livro mais “preto e branco”, como um antagonista. No entanto, ele não é um vilão, pois esta é uma narrativa realista, sem heróis nem bandidos, e sim humanos. É um homem complicado, teimoso e que se recusa a falar com seu filho mentalmente instável. Um patriarca que não dificilmente podemos encontrar nas famílias de classe média pelo mundo. Porque lidar com doenças mentais não é fácil. E, embora seja um assunto menos estereotipado atualmente, ainda há muito preconceito ao seu redor.
Adiciono na lista de personagens cativantes o terapeuta de Pat, Cliff, um sujeito doce, competente e, que posso afirmar, o melhor terapeuta que já vi na literatura ou no cinema, na minha humilde opinião. Sua adorável, protetora e dedicada mãe, Jeanie, e seu amado irmão Jake. Esses três, juntamente com seu melhor amigo Ronnie e Tiffany, ajudam Pat a percorrer o difícil caminho de recuperar a memória, o tempo perdido e sua sanidade.
Como aconselha Pat, devemos ser positivos, acreditar em finais felizes e no lado bom da vida. No entanto, sem perder a noção de realidade, pois ainda assim, a vida é difícil e é necessário encará-la.