domingo, 15 de maio de 2011

Splendor in the grass



O filme de hoje é de um diretor muito polêmico em sua época, o ótimo Elia Kazan. "Clamor ao sexo" é um longa da década de 1960, mais precisamente de 1961. A trama se passa no final dos anos 1920, e conta a história de Bud (Warren Beatty) e Deanie (Natalie Wood), um casal de estudantes, no estado do Kansas. Apesar da grande paixão do casal, o romance sofre forte resistência pela repressão sexual da sociedade da época.

A sinopse conta brevemente sobre um tema que até na década de 1960 era mal visto no cinema: a repressão sexual. Deanie, uma garota de família humilde, foi criada pela mãe, de maneira que o sexo era apenas uma forma de reprodução. Bud, de família rica, ama Deanie, mas luta contra suas vontades e quer algo mais do que apenas os beijos a que eles se limitam.
Vale ressaltar a irmã de Bud, uma jovem à frente de seu tempo, que namorava bastante, bebia muito e não se adequava às regras da sociedade da época.
Desejando se casar com Deanie (ambos estavam no último ano da escola), Bud propõe a ideia ao pai, que resiste. Ele quer que Bud vá para Yale e, após os quatro anos de curso, volte e se case com ela. A moça decide esperar pelo namorado, mas nem tudo caminha conforme o planejado.
Sem controle sobre seus impulsos reprimidos, Bud decide terminar com Deanie para, como seu pai aconselha, procurar uma moça mais fácil que o satisfaça rapidamente.
E é justamente isso que ocorre. O resultado é péssimo, pois Deanie se desequilibra emocionalmente, entrando em estado de depressão profunda.
Sobre a história, me limito até esse ponto. Muitas situações acontecem depois e o filme se desenvolve brilhantemente. Vale a pena se surpreender com os fatos ao decorrer da película.
Após o ótimo e também polêmico "Uma Rua chamada Pecado", Kazan repete sua crítica à hipocrisia da sociedade, que resulta em filmes de qualidade. O desempenho de seus atores é sempre muito bom. E aqui quem sobressai é Natalie Wood. O filme é dela, que inclusive recebeu uma indicação ao Oscar na categoria de melhor atriz. Todas as nuances de sua personagem são bem trabalhadas. Além dela, Warren Beatty, em seu primeiro filme, surpreende com sua atuação realista para um novato no cinema.
É de enorme satisfação ver um filme feito há 50 anos e que, mesmo assim, permanece atual. O longa recebeu o Oscar de melhor roteiro original.
Para fechar, cito o que é para mim a melhor cena do filme. É o momento em que Deanie explica na sala de aula o poema de William Wordsworth, que um de seus trechos dá título ao filme: Splendor in the grass:

"What though the radiance which was once so bright
Be now for ever taken from my sight,
Though nothing can bring back the hour
Of splendor in the grass, of glory in the flower;
We will grieve not, rather find
Strength in what remains behind..."

terça-feira, 3 de maio de 2011

Insatisfação crônica



Eu amo Woody Allen. Não tem jeito. Tudo que ele produz eu quero ver. Desde filmes mais leves como "Escorpião de Jade", até os mais tensos, no estilo tragédia grega como "Match Point". Mas hoje vou comentar sobre o meu preferido: "Vicky Cristina Barcelona". Que filme! Fotografia belíssima, histórias nos moldes loucos de Allen, personagens fáceis de se identificar e atuações memoráveis. E claro, seu alter ego. No caso, Vicky, interpretada muito bem por Rebecca Hall. No elenco destacam-se também Javier Bardem, super charmoso como Juan Antonio, Scarlett Johansson que também se mostra à vontade como a insatisfeita e impulsiva Cristina e Penelope Cruz. Nem é necessário dizer que é ela quem rouba a cena. Complicada, neurótica, maluca. Essa é Maria Elena. 

Penelope ofusca todos a partir do momento em que entra em cena. Eu, que comecei a gostar de suas performances quando vi "Volver", concluí o quanto ela é talentosa. Parece que Woody Allen tem esse poder de extrair o melhor de seus atores. Não sei se pela direção "desleixada", os deixando improvisar, ou pelo simples fato de ele ser brilhante. O fato é que quase todos os atores querem trabalhar em seus filmes.

Na história, Vicky e Cristina são amigas que vão passar as férias de verão em Barcelona. Vicky está noiva e é sensata nas questões do amor. Cristina é pura emoção. Durante uma exposição de arte, as duas se encantam pelo pintor Juan Antonio, que as convida mais tarde, durante um jantar, para uma viagem. O que elas não sabiam é que ele mantém um relacionamento problemático com sua ex-esposa Maria Elena. E as coisas ainda ficam piores porque as duas, cada uma de sua forma, se interessam por ele, dando início a um complicado "quadrado" amoroso. 

O cinema característico de Allen está fortemente presente. Pessoas neuróticas e indecisas, questões existencialistas e certezas estilhaçadas. Ninguém está satisfeito e nem próximo disso. Como a vida, nada é imutável. Com seu humor sarcástico e refinado, o diretor retrata tudo isso. Sendo uma comédia, faz parecer mais leve. No entanto, como no final do filme, você pode sair do cinema ainda mais confuso do que quando entrou. Mas nada como uma confusão no estilo Woody Allen, não é?