Complexo,
o mundo dos sonhos é um tema que já foi abordado em Hollywood, embora não tão
minuciosamente como nesse filme de Christopher Nolan. A origem e a
inserção de uma ideia são as questões retratadas no filme. Tais temas são tão
curiosos para a sociedade, que geram admiradores e estudiosos sobre eles. Freud
é pioneiro quando o assunto é desvendar o conteúdo dos sonhos. Afinal, como a
mente do ser humano é capaz de criar um mundo paralelo enquanto dormimos? Por
que os sonhos parecem tão reais e palpáveis quando estamos nele? Como se
diferencia o que é real e o que não é? Inteligente, criativo e, por que não,
inovador – embora a visível semelhança com outros filmes de ficção científica,
como Matrix – A Origem é a real mistura de
entretenimento com um roteiro inteligente, capaz de tirar o fôlego do
telespectador.
A
trama, onde não é explicitada a época, trata de um mundo onde é possível entrar
na mente humana. Cobb (Leonardo
DiCaprio) está entre os melhores na arte de roubar segredos valiosos do
inconsciente, durante o estado de sono. Além disto, ele é um fugitivo, pois
está impedido de retornar aos Estados Unidos devido à morte de Mal (Marion Cotillard), sua esposa.
Desesperado para rever seus filhos, Cobb aceita a ousada missão proposta por
Saito (Ken Watanabe), um
empresário japonês: entrar na mente de Richard Fischer (Cillian Murphy), o herdeiro de
um império econômico, e plantar a ideia de desmembrá-lo. Para realizar este
feito ele conta com a ajuda do parceiro Arthur (Joseph Gordon-Levitt), a
inexperiente arquiteta de sonhos Ariadne (Ellen Page) e Eames (Tom Hardy), que consegue se
disfarçar de forma precisa no mundo dos sonhos.
Para
entrar nesse mundo, existem vários “macetes”. É necessário que as pessoas sejam
sedadas, de um arquiteto para criar o mundo onírico, dos ladrões para armarem a
trama e de uma pessoa capaz de se transformar de acordo com a personalidade da
vítima. Cobb tem a principal função de conduzir o sonho, e roubar ou inserir
uma ideia.
O que
é fascinante no longa, é o fato do roteirista – também Nolan – ter buscado
aspectos existentes dos sonhos e ter encaixado na história. Uma cena que
exemplifica isso é quando Cobb está explicando a Ariadne como funciona todo
esse esquema. Em certo ponto da conversa, ele indaga: “Como você chegou aqui?”.
Ela para, pensa e então responde: “Não sei”. É então que Ariadne descobre estar
em um sonho. Tal ponto ressalta o fato de nunca lembrarmos quando chegamos
nele. Simplesmente estamos lá. Uma sacada bastante eficiente do diretor e
roteirista. Outro aspecto de nossos sonhos mostrado na película é o fato de que
só acordamos de um sonho quando morremos. Isso é visto incansavelmente em A
Origem.
Percebe-se
que Cristopher Nolan fez uma pesquisa voraz no assunto. O roteiro demorou
aproximadamente 10 anos para ser finalizado. O cineasta, que se consagrou na
franquia de Batman, é um dos jovens e celebrados diretores dessa geração. Seus
filmes conseguem misturar entretenimento de massa, sem que descartar uma trama
inteligente e complexa, onde não há precisamente um final definitivo.
Geralmente,
em filmes de entretenimento, os personagens são na maioria das vezes caricatos
e sem profundidade emocional. Embora o filme não explore tanto as outras
figuras, Cobb é um personagem digno de curiosidade. Perturbado pelo suicídio de
sua esposa, que aparentemente enlouqueceu, o ladrão de sonhos vive em um
impasse onde não consegue se livrar das memórias referentes à morte de Mal. Na
maioria dos sonhos em que ele “trabalha”, Mal está presente. E essa presença o
distrai de sua função. Como é o caso de uma das primeiras cenas do longa, onde
ela o atrapalha na missão de roubar uma ideia de Saito.
O que
a presença constante de Mal significa? Na verdade, não é ela propriamente, e
sim sua projeção do inconsciente de Cobb. O limbo em que viveram anos atrás é
retratado no início e no fim da trama. Um pergunta intrigante é: e se Cobb
nunca saiu de lá? Mal simplesmente enlouqueceu, ou realmente estava certa
quando se matou, para sair do sonho em que ela acreditava estar? E no final do
filme, quando vemos o objeto girando sem parar. Aquilo tudo foi um sonho? O que
é real? A que realidade pertencemos? Será possível estarmos vivendo em um mundo
onde é tudo imaginação? Como se pode constatar, A Origem veio para explorar e
tentar entender o universo onírico e quem sabe, vermos que nada é tão real
quanto parece. Ou é? Essa incógnita é o que há de mais atraente no filme. O
final indefinido nos leva a diversas visões sobre o tema.