domingo, 12 de junho de 2011

Desconstruindo "A Origem"



Complexo, o mundo dos sonhos é um tema que já foi abordado em Hollywood, embora não tão minuciosamente como nesse filme de Christopher Nolan. A origem e a inserção de uma ideia são as questões retratadas no filme. Tais temas são tão curiosos para a sociedade, que geram admiradores e estudiosos sobre eles. Freud é pioneiro quando o assunto é desvendar o conteúdo dos sonhos. Afinal, como a mente do ser humano é capaz de criar um mundo paralelo enquanto dormimos? Por que os sonhos parecem tão reais e palpáveis quando estamos nele? Como se diferencia o que é real e o que não é? Inteligente, criativo e, por que não, inovador – embora a visível semelhança com outros filmes de ficção científica, como Matrix – A Origem é a real mistura de entretenimento com um roteiro inteligente, capaz de tirar o fôlego do telespectador.
A trama, onde não é explicitada a época, trata de um mundo onde é possível entrar na mente humana. Cobb (Leonardo DiCaprio) está entre os melhores na arte de roubar segredos valiosos do inconsciente, durante o estado de sono. Além disto, ele é um fugitivo, pois está impedido de retornar aos Estados Unidos devido à morte de Mal (Marion Cotillard), sua esposa. Desesperado para rever seus filhos, Cobb aceita a ousada missão proposta por Saito (Ken Watanabe), um empresário japonês: entrar na mente de Richard Fischer (Cillian Murphy), o herdeiro de um império econômico, e plantar a ideia de desmembrá-lo. Para realizar este feito ele conta com a ajuda do parceiro Arthur (Joseph Gordon-Levitt), a inexperiente arquiteta de sonhos Ariadne (Ellen Page) e Eames (Tom Hardy), que consegue se disfarçar de forma precisa no mundo dos sonhos.


Para entrar nesse mundo, existem vários “macetes”. É necessário que as pessoas sejam sedadas, de um arquiteto para criar o mundo onírico, dos ladrões para armarem a trama e de uma pessoa capaz de se transformar de acordo com a personalidade da vítima. Cobb tem a principal função de conduzir o sonho, e roubar ou inserir uma ideia.
O que é fascinante no longa, é o fato do roteirista – também Nolan – ter buscado aspectos existentes dos sonhos e ter encaixado na história. Uma cena que exemplifica isso é quando Cobb está explicando a Ariadne como funciona todo esse esquema. Em certo ponto da conversa, ele indaga: “Como você chegou aqui?”. Ela para, pensa e então responde: “Não sei”. É então que Ariadne descobre estar em um sonho. Tal ponto ressalta o fato de nunca lembrarmos quando chegamos nele. Simplesmente estamos lá. Uma sacada bastante eficiente do diretor e roteirista. Outro aspecto de nossos sonhos mostrado na película é o fato de que só acordamos de um sonho quando morremos. Isso é visto incansavelmente em A Origem.

Percebe-se que Cristopher Nolan fez uma pesquisa voraz no assunto. O roteiro demorou aproximadamente 10 anos para ser finalizado. O cineasta, que se consagrou na franquia de Batman, é um dos jovens e celebrados diretores dessa geração. Seus filmes conseguem misturar entretenimento de massa, sem que descartar uma trama inteligente e complexa, onde não há precisamente um final definitivo.
Geralmente, em filmes de entretenimento, os personagens são na maioria das vezes caricatos e sem profundidade emocional. Embora o filme não explore tanto as outras figuras, Cobb é um personagem digno de curiosidade. Perturbado pelo suicídio de sua esposa, que aparentemente enlouqueceu, o ladrão de sonhos vive em um impasse onde não consegue se livrar das memórias referentes à morte de Mal. Na maioria dos sonhos em que ele “trabalha”, Mal está presente. E essa presença o distrai de sua função. Como é o caso de uma das primeiras cenas do longa, onde ela o atrapalha na missão de roubar uma ideia de Saito.     
O que a presença constante de Mal significa? Na verdade, não é ela propriamente, e sim sua projeção do inconsciente de Cobb. O limbo em que viveram anos atrás é retratado no início e no fim da trama. Um pergunta intrigante é: e se Cobb nunca saiu de lá? Mal simplesmente enlouqueceu, ou realmente estava certa quando se matou, para sair do sonho em que ela acreditava estar? E no final do filme, quando vemos o objeto girando sem parar. Aquilo tudo foi um sonho? O que é real? A que realidade pertencemos? Será possível estarmos vivendo em um mundo onde é tudo imaginação? Como se pode constatar, A Origem veio para explorar e tentar entender o universo onírico e quem sabe, vermos que nada é tão real quanto parece. Ou é? Essa incógnita é o que há de mais atraente no filme. O final indefinido nos leva a diversas visões sobre o tema.


quarta-feira, 8 de junho de 2011

Um futuro não muito distante


Como uma faminta em cultura cinematográfica e amante de filmes das décadas passadas, vocês não imaginam a satisfação que tive quando vi o clássico Farenheit 451  (1966) de François Truffaut , um dos fundadores do movimento Nouvelle Vague. Esse foi o único filme em inglês do cineasta.
O longa é uma ficção científica, o que para mim é pouco para classificá-lo. Filosofia, relações humanas, cultura, literatura e repressão social. São esses os temas retratados nele. Assisti Farenheit 451 em uma aula da faculdade, em uma eletiva que faço de cinema e, desde então, me apaixonei.
Para resumir, a película é a adaptação do romance homônimo de Ray Bradbury  e se passa em um Estado totalitário num futuro próximo, onde os "bombeiros" têm como função principal queimar qualquer tipo de material impresso, pois foi convencionado que literatura um propagador da infelicidade. Mas Montag (Oskar Werner), um bombeiro, começa a questionar tal linha de raciocínio quando vê uma mulher preferir ser queimada com sua vasta biblioteca ao invés de permanecer viva. 
No caminho de casa, Montag conhece uma mulher (Julie Christie) que o aborda e diz que o observa há certo tempo. Na conversa deles, ela indaga: "Você lê os livros antes de queimá-los?". A pergunta o deixa intrigado. Por outro lado, sua esposa, Linda é o retrato da sociedade da ficção. Vivida também pela ótima Julia Christie, ela é alienada, só assiste aos programas de TV manipuladores e vive à base de remédios. Diferentemente, Montag não vive dessa forma e no fundo é um questionador. 
Conforme a amizade com a moça do trem cresce, ele vai contestando cada vez mais sua função. E para saciar sua curiosidade, passa a pegar alguns livros antes de queimá-los e se apaixona pela literatura, desconhecida pela maior parte da população. 
O desenrolar do longa é muito bom e o final é fascinante e inspirador. Vou me limitar até essa parte, pois vale muito a pena assisti-lo. Eu me surpreendi positivamente, pois não sou a maior admiradora de ficção científica.
Portanto, fica a dica. Aluguem! É um daqueles filmes que ficam na memória e mostram como o cinema pode mudar nossa forma de ver a sociedade e a vida. Afinal, o futuro do filme não é tão distante do nosso.  
OBS: O título é referente à temperatura que os livros são queimados. Uma sacada genial do autor!

domingo, 5 de junho de 2011

"Please, let me get what I want this time..."


Como é bom encontrar uma comédia romântica diferente. É clichê dizer que a indústria cinematográfica repete as mesmas histórias o tempo todo, mas essa é a verdade. No entanto, pelo menos uma vez a cada dois ou três anos vemos algo fora do usual. E é esse o caso de "500 Dias com Ela". É até limitado classificar o filme como comédia romântica, pois vemos drama e até uma cena digna de musical. São esses elementos que fazem o filme tão bom e atípico.


Partindo do princípio "garoto conhece garota" e com cenas de flashbacks, a linha narrativa é tão surpreendente quanto o desenvolvimento de sua história. Tom (Joseph Gordon-Levitt), um azarado escritor de cartões comemorativos e romântico sem esperanças, fica sem rumo depois de levar um fora da namorada Summer (Zooey Deschanel), ele volta a vários momentos dos 500 dias que passaram juntos para tentar entender o que deu errado. Suas reflexões acabam levando-o a redescobrir suas verdadeiras paixões na vida.
A história nos encanta primeiramente devido aos personagens principais e seus intérpretes. Tom é adorável, sensível e completamente apaixonado por Summer. Summer é liberal, de espírito livre, mas nunca foi apaixonada por Tom, embora gostasse muito dele. Em comum, eles têm o gosto musical. E por falar em música, a trilha sonora do filme é impecável. Virei fã de The Smiths devido ao longa.
Joseph e Zooey têm uma ótima química em tela. Quase não reconheci o nerd de "10 Coisas que Eu Odeio em Você". A semelhança com Heaht Ledger é nítida. Zooey se mostra tranquila em sua personagem e além de linda e boa atriz, ela é cantora da excelente banda folk She & Him, em parceria com M. Ward.
 Voltando ao filme, vemos a inversão de papeis das típicas comédias românticas. Normalmente, são as mulheres que sofrem por não serem correspondidas. Não é esse o caso. Aqui, o pobre Tom que tem seu coração partido. Por mais insensível que Summer pareça, o carisma de Zooey Deschanel tira qualquer resquício de antipatia da personagem.
No final, cheguei a uma conclusão. A vida é feita de fases, e por pior que elas sejam o ideal é tentarmos tirar proveito delas de alguma forma. E o que eu vi foi que a relação de Tom com Summer foi uma fase. Aventureira, turbulenta, incerta. Como os verões devem ser. E quem sabe, com a chegada do outono, as coisas se acalmem.