Sim, eu sei que o nome do blog é
CineCult Addiction e fala sobre cinema, mas desta vez vou mudar de foco e
escrever sobre um livro que eu me apaixonei perdidamente. No entanto, para não
perder o gancho cinematográfico, a obra em questão é a inspiração de um filme
que eu amo, o homônimo O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook). Abaixo, a
sinopse oficial:
Pat Peoples, um ex-professor de história na casa dos 30
anos, acaba de sair de uma instituição psiquiátrica. Convencido de que passou
apenas alguns meses naquele “lugar ruim”, Pat não se lembra do que o fez ir
para lá. O que sabe é que Nikki, sua esposa, quis que ficassem um "tempo
separados".
Tentando recompor o quebra-cabeça de sua memória, agora
repleta de lapsos, ele ainda precisa enfrentar uma realidade que não parece
muito promissora. Com seu pai se recusando a falar com ele, sua esposa
negando-se a aceitar revê-lo e seus amigos evitando comentar o que aconteceu
antes de sua internação, Pat, agora um viciado em exercícios físicos, está
determinado a reorganizar as coisas e reconquistar sua mulher, porque acredita
em finais felizes e no lado bom da vida.
À medida que seu passado aos poucos ressurge em sua
memória, Pat começa a entender que "é melhor ser gentil que ter
razão" e faz dessa convicção sua meta. Tendo a seu lado o excêntrico (mas
competente) psiquiatra Dr. Patel e Tiffany, a cunhada viúva de seu melhor
amigo, Pat descobrirá que nem todos os finais são felizes, mas que sempre vale
a pena tentar mais uma vez.
Um livro comovente sobre um homem que acredita na
felicidade, no amor e na esperança.
Matthew Quick, onde você esteve
este tempo todo? Que escritor brilhante! Consegue captar cada ação, pensamento,
sentimento e emoção de seu personagem principal de maneira lindamente
minuciosa, fazendo com que o leitor sinta tudo o que Pat sente durante a obra. O
livro, de uma leitura leve, apesar do tema forte, nos faz compreender o que se passa
na cabeça de Pat, pois é narrado pelo protagonista quase como um diário.
Me fascina a mente de um artista,
seja ele escritor, roteirista, cineasta ou ator e sua capacidade de criar. Transformar
um personagem em humano como todos nós. Sem máscaras, sem estereótipos, sem
limitações. Esse é Pat, que, ainda mais especial, sofre de transtorno bipolar.
A batalha de Pat em descobrir o
que realmente aconteceu para ir para o “lugar ruim” e a sua quase infantil
filosofia de que sua vida é um filme e no final as coisas vão dar certo, são
fatores que fazem o leitor se encantar pelo personagem. Seu maior objetivo, seu
final feliz, é se reconciliar com Nikki e terminar com o “tempo separados”.
O que é fascinante em Pat é sua
devoção em se tornar uma pessoa melhor. Como ele repete diversas vezes no
livro, “estou praticando ser gentil ao invés de ter razão”. É lindo e, ao mesmo
tempo, triste, o fato de Pat se esforçar tanto para se tornar uma pessoa genuinamente boa e manter sua sanidade, enquanto tantas pessoas perfeitamente sãs fazem coisas horríveis.
A narrativa se torna ainda mais
interessante quando entra em cena Tiffany. Com seus próprios demônios
interiores, porém com consciência deles (diferente de Pat), Tiffany é uma
personagem tão poderosa quanto o protagonista, embora tenha menos destaque.
Com uma história igualmente triste e também com o peso de uma doença mental, ela é uma mulher
que, apesar de machucada pelos dissabores da vida, traz consigo a coragem de assumir
quem de fato é. Ela não se esconde através de máscaras, e reconhece que tem
problemas, apesar da hipocrisia da sociedade, que quer mascarar qualquer idiossincrasia das pessoas.
Além de todas as dificuldades que
enfrenta, Pat ainda tem que lidar com seu difícil pai. Um homem que só fica de
bom humor quando seu time de futebol americano ganha. Um personagem
duro, podendo ser visto, se fosse um livro mais “preto e branco”, como um
antagonista. No entanto, ele não é um vilão, pois esta é uma narrativa realista, sem heróis nem bandidos, e sim humanos. É um homem complicado, teimoso e que
se recusa a falar com seu filho mentalmente instável. Um patriarca que não
dificilmente podemos encontrar nas famílias de classe média pelo mundo. Porque lidar
com doenças mentais não é fácil. E, embora seja um assunto menos estereotipado
atualmente, ainda há muito preconceito ao seu redor.
Adiciono na lista de personagens
cativantes o terapeuta de Pat, Cliff, um sujeito doce, competente e, que posso afirmar,
o melhor terapeuta que já vi na literatura ou no cinema, na minha humilde
opinião. Sua adorável, protetora e dedicada mãe, Jeanie, e seu amado irmão
Jake. Esses três, juntamente com seu melhor amigo Ronnie e Tiffany, ajudam Pat
a percorrer o difícil caminho de recuperar a memória, o tempo perdido e sua
sanidade.
Como aconselha Pat, devemos ser
positivos, acreditar em finais felizes e no lado bom da vida. No entanto, sem
perder a noção de realidade, pois ainda assim, a vida é difícil e é necessário
encará-la.